sábado, 10 de agosto de 2013

LAURINDA FARMHOUSE

    Depois de publicada a mensagem sobre o Centro de Artes e Cultura de Ponte de Sor (e Centrum Sete Sóis Sete Luas), em que ofereci o texto digitalizado do catálogo da exposição LAURINDA FARMHOUSE, venho atentar em pormenor na «breve nota», escrita por Madalena Braz Teixeira.
     São duas coisas muito bem feitas: a peça literária, que, mesmo sem o pretender ser, eventualmente, Madalena Braz Teixeira fez e a vida de Laurinda Farmhouse. É que a vida de uma pessoa pode ser uma obra de arte. Veja-se Sócrates, que tanto falou e ensinou, e palavras (leva-as o vento, diz o povo) não ficaram escritas. Não nos deixou livros de Diálogos, como o seu discípulo Platão, nem Obras Completas. Outros se ocuparam de nos legar a sua memória, ecos do ensino e ditos memoráveis. Estaria neste caso de obra de arte, pela vida que se construiu, Laurinda Farmhouse, mas está na arte de duas maneiras -- pela vida e pelas próprias obras que criou. É autora. Não repete, apenas; acescenta algo que não existia antes. Claro que trabalha no «barro» preexistente. Do nada, nada se faz. Autora, a partir de materiais e temas, num mundo que não nos habituámos a encarreirar ao lado dos habituais escritores, pintores, escultores, arquitectos, compositores (ou escritores de música) --, o mundo da moda, «tanto na sua expressão mais erudita, como na criaçao de trajes destinados à cena». O mundo da ficção é real e o real, às vezes,  ultrapassa a imaginação. Certas personagens ganham vida própria, de tal maneira que andam ao nosso lado e quando não estão, facilmente são recordadas em situações do dia-a-dia. Penso que isso acontecia aos gregos, no tempo em que muita gente sabia de cor partes mais ou menos longas dos poemas homéricos. «Se estivesse agora aqui Ulisses, Nestor ou Telémaco...»
     Madalena Braz Teixeira «acompanha» Laurinda do Porto, onde iniciou a sua carreira numa «famosa casa de enxovais, a Candidinha», até Lisboa, onde a mesma casa abriu uma representação. E assim passaram 20 anos, de 1955 a 1974. A seguir ao 25 de Abril de 1974, grandes mudanças, reflectidas em geral na maneira de vestir. A Candidinha fechou. Laurinda abre um novo atelier. «A sua casa passa a ser frequentada por grande parte da clientela que se vestia na Candidinha e que buscava um gosto discreto e sempre elegante.»

     A firma Ayer faz uma proposta irrecusável a Laurinda, em 1976.

     Responsável pela imagem visual de duas senhoras de eleição.

     Trajes de cena destinados a importantes comédias musicais.

     No catálogo, estão seleccionadas fotografias das seguintes senhoras : MARIA BARROSO (capa), FRANCISCA HOLSTEIN, MARIA BARROSO, ISABEL DE BRAGANÇA, LUÍSA DOOLITTLE, LUÍSA CHAMPALLIMAUD, MARIA DA LUZ FIGUEIREDO, MARIA DA LUZ CASTELO BRANCO, NINA ESPÍRITO SANTO CUNHA, MÉCIA LAGOS, ISABEL DE BRAGANÇA, ISABEL DE BRAGANÇA, ISABEL DE BRAGANÇA, MARIA DO ROSÁRIO FIGUEIREDO, MÉCIA LAGOS.
     Notou alguma coisa? A ficção encarnada, lado a lado com as outras senhoras?

     Convido a ler a BREVE NOTA SOBRE LAURINDA FARMHOUSE. É proveitosa, é um quadro com apontamentos da sociedade portuguesa no seu devir, feito de várias correntes, como as águas de uma ribeira.

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         Clicar nas imagens, para ler melhor.


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